top of page

O amor e o caminho

 

Quando o amor nasceu, o caminho já estava lá.

O amor no mundo cresceu, com o caminho a lhe guiar.

Assim que o amor adormeceu, o caminho pôs-se a velar.

Quando o caminho estremeceu, o amor seguiu sem parar.

 

Eis que o caminho procura o amor, já não sabe sem ele andar.

O amor se perdeu pelo mundo, sem o caminho para lhe guiar.

O caminho se desfez em pedaços, o amor se jogou ao relento.

A ausência de tamanho laço, nasce a solidão, a tristeza e o tormento.

 

Espera moribundo, ainda que paciente, com o tempo, o amor,

Pelas arestas dos dias, reencontrar o caminho perdido.

Sacias o caminho tal saudade com as lembranças,

De outrora, o amor por ele vivido.

 

 

 

 

 

 

Canto à minha cidade
 

 

 

 

 

 

 

 

Quem sabe se os sonhos bandeirantes varonis,

tenham repousado sob a paineira no campo verde?

Ao lado do Varadouro, cantante, sereno, vais vendo,

Piraputangas em seu mundo de cores pulsantes.

- Fico, e tomo-te comigo de sonhos; Diz.

 

Ao ipê que se deitou para a estrada de ferro,

Trazendo vindouro e já calejado homem estradeiro,

que acelera o passo do boi que pende exaurido,

cabisbaixo, vestindo a fumaça, deixando o passado.

 

Qual seja a cor do sol no horizonte – remete o Oriente;

Cobre teu campo com o pendão do ouro de grão preto

Pelejas – arrozais. Levante a bandeira ao céu, triunfante.

Homem, ide e anunciai a conquista, rompante.

 

Murmuram as águas do rio lá adiante, caudaloso – Salobras.

Retorna o passo à colônia, sua casa; nela cerra seus olhos.

E desce, perene, incólume, heroico – desbravador.

Estacas rochosas te prendem, da raiz ao mais puro verdor;

Faz-te a cama branca, macia, onde guarda-te ao esplendor.

 

Alça-te para teu legado de glória incomutável,

Outrora do índio – Eis o branco com voz de paz.

- Senta-te à mesa, sertanejo! Dividamos o pão, os sonhos e mais.

O cerne de tua labuta, a vitória – És livre! Dizem-te.

Pacata desde a cama verde que a recobre,

Quebra com desengano, firma-te para o céu azul. Livre!

 

De nome tão pequeno, ínfimo para sua história,

És mãe; dos filhos que partem, recordam saudosos.

Berço esplêndido, intocável pelo tempo.

 

Terenos, guarda-te o sonho, mãe acolhedora,

Tão cedo retorno – ao passo que finda meus dias,

Breve hei de me aconchegar em teu colo, e pedir:

- Escrevam em minha última morada, “és filho desta terra adorada,

E repousa neste berço por fim.”

 

______________________________________________________________________

 

Lira I

 

Adeus
 

Acalma-te peito dessa louca vida,

e deixo-te inebriante paixão.

Sondo-me ao breu e desapego tardio,

envolto por ti, fiel devoção.

 

Ah, mãe amada que sofres,

nessas horas de lenta agonia.

Compreendas: - Deixo só esse cenário bravio!

Contudo, selo sua tenra alegria.

 

Despeço de ti, mundo amado e amante.

Zele por minha mãe querida.

Ancore, que ela não definhe por esse rompante.

 

Ensine a sorrir com a dor sentida,

estanque o sangue dessa ferida, desejas:

- Com amor, seu filho errante.

 

______________________________________________________________________

 

 

Canto de lamentação I

 

 

Infância

 

Ah, que saudade que tenho daqueles dias!

De como eu amava minha vida simples!

 

Acordar de manhãzinha! Que mágico.

O galo cantava no poleiro do quintal,

Quando os raios de sol surgiam num rompante.

As vacas mugiam em coro no curral;

Ao lado, com seu banquinho um leiteiro desvalido,

Também via nascer o sol solitário no horizonte.

 

A relva escondia o verde da grama no pasto.

Agradecia as florezinhas orvalhadas, o banho da natureza.

Quão bom era ouvir o canavial barulhento e fasto,

E os pássaros a cantar no pomar. Imagine a beleza!

Sinfonias de sábias, bem-te-vis, chororós e andorinhas;

Estas, saltitando de galho em galho, tão pequenininhas.

Ah, que maravilha é sabido, tão viva era a natureza.

 

O sempre pontual tuiuiú, as quinze por lá passava.

E no açude beira a mata, banhava e comia.

Que supimpa! Fazia festa quando podia, batendo as asas.

E em voo solo, subia tanto que no azul se perdia.

 

Mais adiante, o rio caudaloso, parece que entendia,

Quando correndo vinha o bando de guris, e saltavam.

Solicito, acalmava suas águas e os saltos recebia.

Para depois, acolher os muitos risos que eles davam.

 

Ah, que saudade da minha infância, onde,

Na mata fechada eu corria da caipora e do saci.

Pudera em dia de vento, correr redemoinho a dentro,

Por duvidar das histórias de mãe, para dormir.

Tomava cuidado para não passar pelo cipó bravo,

Não desejava perder-me na mata verde, ao longe.

Se ele era mato esperto, também era eu, jamais me perdi.

 

Perpetuo minha amizade às árvores que descendem;

Não esqueço das pedras que havia naquele rio.

Agora que passou o tempo e poucas delas existem,

Falo de árvores, pedras, água, que o homem os ruiu.

 

Ah, que saudade daqueles dias!

Não era proibido correr na chuva, acredite!

Quem sabe, descalço, sem camisa ou pelado?

Rendia, um espirro, um catarro, uma gripe!

Que aos ralhos da mãe, remédio e carinho, estava curado.

 

Porém, vem o tempo e nos faz crescer sem apelo.

E passa-se a andar para outros tempos, desiguais.

Das dores que tenho hoje, velho e ressentido,

Certamente a pior de todas é ter crescido menino.

Forçado a abandonar tudo que mais estimo,

Para viver com saudade o tempo que já vai indo.

 

Temo, por meu exício, dar adeus ao Pantanal.

Minha terra bendita da infância de alegrias.

E lá distante, nem sequer viver da lembrança jovial.

Ah, que saudade eu tenho daqueles dias;

 

Hoje não mais canta o meu galinho, no poleiro.

Nem ouço o mugir das vacas no meu curral.

Não vejo a relva cobrindo as flores pelo caminho.

Nem ouço meu fasto e barulhento canavial;

 

Não tem mais sábias e andorinhas saltitantes,

Nem mesmo o rio caudaloso, e o Tuiuiú gaiato no açude.

Foi- se embora minha tão amada infância, sem igual,

Ah, que saudade eu tenho, de meu amado Pantanal.

Ah, que saudade daqueles dias!

 

 

______________________________________________________________________

 

 

Desistência

 

Confesso; eterna solidão de meu espirito, que

com todo zelo destrói meus sonhos;

Era tão puro como a neve mais alva, tristeza

no lugar da esperança, agora ponho.

 

Rompe em mim esse desfalecimento d’alma,

que transmuta aos olhos a existência minha.

Faz sangra meu corpo, me apaga a calma,

e se esvai a foça para lutar que eu tinha.

 

De que me adianta correr para a vida?

Lástima! Pudera eu mesmo tê-la feito,

não a poria em tal desalento febril.

 

Somente de sonhos, a teria refeito.

Jamais, desistiria da luta viril,

E nenhuma tristeza a faria ferida.

 

bottom of page